sexta-feira, 21 de março de 2014

Workshop Mediação de Conflitos e Rede Social foi realizado na EENSA em Ilicínea

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 Mediação de conflitos
     Sábado dia 15 de março de 2014 aconteceu na Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida em Ilicínea o curso de capacitação sobre Mediação  de Conflitos e Rede Social  ministrado pelo filósofo Vicente Alves . No final do evento Vicente propôs a criação do Conselho de Cultura da Paz a ser discutido na reunião de abril.  Membros de várias entidades de Ilicínea se dispuseram a fazer parte do Conselho de Paz. Já confirmaram : Rosely Rocha (Conselho Tutelar), Clauderson (Loja Maçônica), Eduardo (1ª Igreja Batista), Jaqueline Resende (Escola Maria Nicésia), Silvia Costa (Rotary Club ), Silvânia ( Assistência Social), Vítor Eugênio (Agência Congonhas de Notícias) Bereneci Vilela (professora). Adriana Faria (EENSA) e Tenente Edvaldo Silva (Policia Militar) . Abaixo segue uma  entrevista esclarecedora sobre o tema com Vicente Alves e o que se pretende desenvolver em Ilicínea.
1 –Onde  mora , graduação, nome completo,  estado civil, naturalidade?
      Sou Vicente de Paula Alves, natural de Ilicínea – MG, casado e pai de quatro filhos. Atualmente moro em São Paulo, em Itaquera. Nesta região, tenho não somente vivenciado os conflitos gerados pela construção do estádio do Corinthians, como também aprendido o evidente sentimento de impotência dos moradores despejados de suas casas, para que se realizem as obras projetadas para a Copa de 2014. Graduei-me em Filosofia pela PUCCAMP/FAI, com pós-graduações nas seguintes áreas: Adolescente em Conflito com a Lei, pela UNIBAN-SP; Mediação de Conflitos e Práticas Restaurativas, pela Escola Superior do Ministério Público em São Paulo, Designer Instrucional em Educação à Distância na Universidade Federal de Itajubá-UNIFEI_MG.
 2 – O que levou você a se interessar por esta questão social e como é o trabalho deste tema em São Paulo?
     Tenho realizado diversas atividades em pastorais sociais, nas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica em cidades como Campinas e São Paulo. Na Prefeitura de São Paulo, assessorei o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e os Conselhos Tutelares. No Serviço SOS Criança, como diretor do Centro de Atendimento, adotei como método de trabalho as medidas protetivas. Além disso, exerci a docência na Rede Estadual em Diadema-SP. Hoje, concursado , como Supervisor no Estado e Coordenador de Posto de Liberdade Assistida em Mogí das Cruzes-SP, desempenhei ações mediadoras direcionadas a adolescentes judicialmente inseridos em medidas socioeducativas de meio aberto. Na instituição onde trabalho, auxilio nas ações de formação continuada de servidores, inclusive discutindo Cultura de Paz e enfrentamento da violência. Como especialista em mediação de conflitos, atendi, no Ministério Público de Santana, pessoas encaminhadas por Promotor, antes que suas ações fossem  ajuizadas. Ali, acompanhei casos de Boletins de Ocorrência de menor gravidade. As pessoas em litígio participavam de seis sessões de atendimento em média, nas quais se aplicavam técnicas específicas de mediação. Observei, nesta atividade, que , com freqüência, elas  adotavam uma postura menos hostil quando à forma de se posicionarem em relação ao litígio, e chegavam, inclusive, em alguns casos, a retirar as queixas da Delegacia, por optarem por uma solução consensual e pacífica. Percebi, dessa forma, como é importante o papel do mediador nessa s questões, nas quais as pessoas são geralmente refratárias ao diálogo e visam ao ressarcimento financeiro por dano causado por  outra pessoa. O papel do mediador é essencial na busca de formas pacíficas de resolução de conflitos.  
     Agregando minha experiência em mediação de conflitos às atividades da pastoral e à  participação na rede social, passei a integrar a equipe de mediadores da Escola Restaurativa, que atua em 04 escolas dos bairros da Freguesia do Ó/Brasilândia , em São Paulo-Sp, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Inserida no ambiente escolar, nossa equipe tem como objetivo a realização de intervenções mediadoras na solução de problemas educacionais  geralmente complexos, decorrentes das relações interpessoais e de práticas pedagógicas estabelecidas. As ações de  gestores, funcionários, professores e alunos e pais, no contexto escolar, podem  gerar um ambiente desfavorável às potencialidades da escola no que diz respeito à sua função essencial de preparar seus alunos para atuarem socialmente como cidadãos plenos. Claramente, a produtividade mediadora da parceria entre a equipe da Escola Restaurativa e as escolas resultam em algumas mudanças significativas. Percebe-se o resgate da  autoestima e positividade dos professores, gestores e servidores, ao se tratar do enfrentamento de demandas complexas, às vezes, geradas internamente ou trazidas da comunidade pelas crianças e adolescentes para o ambiente escolar. 
3 – Para Ilicínea qual a proposta neste campo?
     Mesmo não residindo atualmente em Ilicínea, jamais deixei de participar direta ou indiretamente, em pequenas inserções na cidade, ora em programas de rádio, ora no acompanhamento pastoral, ainda com Monsenhor Francisco, de discussões ou movimentos sociais voltados para o bem comum de minha cidade. Desejoso de apoiar ações que conduzem a  comunidade para o fortalecimento das relações interpessoais e da cidadania participei ativamente da proposta de discussões da Secretaria de Serviço Social há cinco anos.
      A convite da Sra. Adriana Faria, gestora da Escola Estadual , estabeleceu-se uma parceria como o que ocorreu em São Paulo, no sentido de apoiar e auxiliar os servidores da educação estadual na organização de suas práticas educativas com os alunos e a rede social. Objetivamente, pretendo desenvolver estratégias para a  solução de conflitos , por meio do gerenciamento da  expressão de emoções e da promoção de um ambiente desprovido de agressões gratuitas e de surgimento de novos conflitos. As soluções, portanto, são consensuais, criativas , cooperativas e empáticas.
     Embora a experiência adquirida com o membro da Escola Restaurativa tenha me levado a conhecer um pouco do universo escolar, é importante esclarecer que a identidade, ou melhor, a cultura da Escola Estadual de Ilicínea não é a mesma das escolas de São Paulo. Cada escola é constituída diferentemente: gestores, funcionários, professores, alunos, pais, comunidade, espaço físico, recursos, as práticas pedagógicas, sua forma de organização , seus problemas cotidianos, as maneiras como a comunidade interage com a escola, os problemas da comunidade que também refletem no espaço escolar, a dinâmica das ações  voltadas para a solução desses problemas etc. compõem, em interação , a cultura escolar. Por esse prisma , o convite da gestora  Adriana é desafiador, no sentido de que todas as ações desenvolvidas poderão permitir a criação de um ambiente de reflexão e critica sobre as práticas que se dão na escola, e como elas vão refletir na formação das crianças e jovens de Ilicínea . Dessa forma , almeja-se qualificar ainda mais as relações interpessoais e propiciar mecanismos de empoderamento da comunidade escolar no enfretamento de questões referentes aos conflitos vividos por professores, alunos, (sejam da área rural ou urbana) e pais da Escola Estadual de Ilicínea.
Penso, com isso, que a reflexão sobre as práticas educativas  que possibilitem a mudança do ambiente educacional  de qualquer  escola é um avanço significativo na reconstrução das práticas sociais de uma comunidade. Com Ilicínea, acredito não ser diferente. As ações propostas pelas diretrizes da Comunicação Não violenta fortalecem as atuações da ¨rede social¨ no ambiente escolar. Além de uma gestão democrática e da adesão efetiva de seus profissionais às diretrizes da Cultura da Paz, a participação efetiva de organizações públicas e privadas, do Poder Público e da sociedade civil organizada contribui para o fortalecimento da rede social , na resolutividade dos problemas escolares, com seu ¨olhar de fora¨ e seus recursos e serviços de apoio. Por isso, também são atores importantes, nas nossa ações, as Entidades Sociais , Associações, Sindicatos, Igrejas, Rotary Clube, Loja Maçônica, Clubes Esportivos e Empresas, órgãos do Setor Público Estadual  e Municipal, Segurança Pública (Polícia Militar) , Câmara de Vereadores, todos os serviços públicos ofertados pela Prefeitura Municipal nas Secretarias da Educação, Assistência Social, Saúde, Meio Ambiente e órgãos de defesa da criança e do adolescente (Conselho Tutelar). Esses segmentos sociais ajudam a promover a reconstrução de valores, normas e regras, de metas escolares, de atividades desenvolvidas com os alunos, de projetos, de temas que norteiam as discussões interdisciplinares, como cidadania, valores, preconceito, direitos e deveres dos cidadãos, saúde, educação entre outros, do esforço coletivo em solucionar positivamente problemas, num ambiente solidário e voltado para a eficácia do processo de ensino-aprendizagem das crianças e jovens de Ilicínea.  A constituição de uma rede social atuante ultrapassa os muros da escola quando chama à ação comunicativa representantes de empresas públicas e privadas que interagem com crianças, jovens e profissionais da educação  para desenvolverem ações que conduzam à pacificação na escola.  Estando mensalmente na cidade para formação, inicialmente, dos professores e demais servidores da educação estadual, coloco-me à disposição para estimular espaços de fortalecimento de cidadania, agora com a criação do Conselho de Cultura da Paz, que nasceu alicerçado pelas entidades sócias e públicas presentes dia 15-04-2014, bem como daquelas instâncias, inclusive o Sistema de Justiça e outras que compuserem as discussões para ações conjuntas e integradas, visando à pacificação social e o empoderamento das pessoas.
4 – O curso de capacitação em Ilicínea aconteceu em três vertentes. Como foram divididos os grupos de trabalhos?
     Vivenciando o diálogo e articulação com a Gestora da Escola Estadual, foi pactuada a capacitação dos servidores, utilizando-se ferramentas, técnicas, tecnologias e oficinas  específicas da Mediação de conflitos, Práticas Restaurativas, Comunicação Não Violenta e Cultura da Paz. Para isso, trabalhamos nos períodos da manhã e tarde com dois grupos de professores, gestores  e demais servidores daquela instituição, valendo-se de vivências de círculos de paz e restaurativos. Desenvolveram-se atividades grupais e levantamentos de diagnósticos das questões pontuadas no dia que serão trabalhadas em seis encontros neste ano de 2014, visando ao fortalecimento dos educadores, na relação com os alunos, seus familiares e rede social local.
   No terceiro momento, aberto à comunidade, previamente convidada pela Escola, desenvolveu-se uma discussão sobre Rede Social, enfatizando-se um pouco as reflexões que a Cultura da Paz pode promover na resolução de conflitos nas relações humanas, mesmo as mais complexas.
  5 – Como foi a experiência de ministrar este curso em Ilicínea e quando acontece a próxima reunião?
    Como vivenciei ações em realidades mais complexas de conflitos em São Paulo-SP, junto a outros mediadores, com as demandas apontadas pela Gestão da escola  estadual daqui, organizei os instrumentais para levantamento de diagnóstico das questões que viessem a surgir. Organizei, também, técnicas, tecnologias, oficinas, ferramentas, e apresentei sugestões de livros e leituras que ajudarão na ação na escola  e rede social. Trouxe livros de autores brasileiros e internacionais que trabalha a Cultura da Paz e Mediação de Conflitos e que foram conhecidos pelos educadores e pelos participantes do encontro com a rede social. Na ocasião, criou-se o Conselho de Cultura da Paz, que visa agregar todos os segmentos sociais e pessoas que almejam buscar respostas objetivas e possíveis de concretização no enfrentamento de violências e conflitos de convivência no ambiente escolar e sociocomunitário da cidade. Por ser um movimento social, de iniciativa popular, o mesmo é democrático, colaborativo, cooperativo, participativo, com dimensão pedagógica e dialógica, portanto, apartidário, e não pode ser compreendido de outra forma.
    Os conflitos, sejam quais forem, para serem solucionados, precisam ser estudados, compreendidos, debatidos, e criadas respostas simples e possíveis de aplicação. Até mesmo na formatação do Conselho, as pessoas e instituições que buscarem a melhor organização deverão despir-se de preconceitos e interesses e exercitar a compaixão, a solidariedade, o respeito e a cidadania plena, a todo instante. Pode-se dizer, com se dá com um código de ética, que se busca orientar as ações para a promoção do combate à discriminação, ao preconceito e à desigualdade, garantido a equidade no atendimento dos serviços à criança, ao adolescente, aos adultos e aos idosos. Para tanto, faz-se necessário compreender o  contexto local e cultural, as questões de gênero e de etnia para a melhor atenção às crianças e adolescentes.
     Antes de tudo, é oportuno que o jovem seja visto como um ser em desenvolvimento em busca de sua identidade. Essa questão pode surgir no cotidiano das relações interpessoais, na educação  formal e nas oportunidades que a cidade propicia aos seu munícipes. Isto é uma demanda  que, no momento, exige discussão ou vem junto a outras necessidades.  Então , o caminho se faz caminhando , com muita cautela, respeito às diferenças de opiniões, configurações políticas, credos, gêneros e classe social.
    Há a necessidade de empenho permanente para a eliminação de todas das formas de preconceito. Incentiva-se com isso, o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças, bem como o respeito aos profissionais, para que não sejam pessoas discriminadas; nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.
    A experiência de atuar na primeira ação em Ilicínea foi bastante significativa e proveitosa, uma vez que o primeiro princípio é o do respeito ao espaço sagrado dos profissionais, a escola. Ali, os educadores e servidores da Escola Estadual de Ilicína-MG, na formação, expressaram que atuam com dedicação, profissionalismo e respeito, balizando a atuação no diálogo, na garantia aos princípios dos direitos humanos e normativas do Brasil, desde a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, O Estatuto da Criança e do Adolescente e normativas que permeiam a educação para a juventude. Como estamos no levantamento de questões, nos próximos encontros, vamos desenvolver oficinas, técnicas e recursos pedagógicos para dialogar, debater e elaborar respostas coerentes com a realidade escolar, bem como ampliar de forma significativa as relações naquele ambiente socioeducativo. Mais à frente, queremos diagnosticar com os alunos e grupo familiar as questões que almejam discutir com a educação formal naquela escola, estimulando-os a apontar em que podem ajudar na solução das questões enfatizadas. Das discussões já levantadas, serão propostos cursos de capacitação em mediação de conflitos para profissionais, voluntários  e, também, jovens para que sejam mediadores sociais em escolas e comunidades. Espera-se o estabelecimento de parcerias com organismos públicos e particulares, de forma a custear recursos financeiros nas capacitações. Propõem-se, também, as articulações de saberes e serviços de organismos que implantaram em municípios as práticas restaurativas, valendo-se das práticas vivenciadas de mediações de conflitos e das respostas criadas nas relações sociais e educacionais.
6-  Qual a importância deste trabalho nos dias atuais?
      Em conformidade com os princípios da Comunicação Não Violenta, Cultura da Paz e Mediação de Conflitos em comunidades, o trabalho proposto quer contribuir de forma significativa e qualificada para o gerenciamento e a expressão de emoções e posicionamentos pessoais. Promove, sem agressões ou criação de conflitos, soluções de consenso criativas, cooperativas e de empatia entre as pessoas, considerando-se a realidade de cada pessoa e sua realidade sociocomunitária.
 7 – Este é um trabalho de inclusão e cidadania. Há muitos profissionais atuando na área, ou na maioria, são voluntários?
     O trabalho tem caráter pedagógico e de cidadania, com participação contínua das pessoas nos organismos e instituições  públicas e privadas, as se dar voz às crianças, jovens, adultos e idosos. O protagonismo de ações conduz a uma sociedade mais pacificada, com respeito e compaixão pelo outro, em todas as condições que a vida oferece em qualquer comunidade social.
     Atualmente, existem organismos e instituições públicas e privadas envolvidos na criação de cursos de capacitação, monitoramento e avaliação de práticas de mediação de conflitos e estabelecimento de Cultura de Paz. Caminha-se no sentido de formalizar a profissão de mediadores de conflitos, também havendo mediadores que atuam em defesa de interesse de empresas, bem como outros a serviço do Sistema de Justiça, estes últimos visando acelerar os processos judiciais, principalmente aqueles em que não há como aplicação alguma penalidade. 
     O resultado tem sido satisfatório com escolas em algumas cidades, com Porto Alegre-RS, Brasília-DF, São Caetano do Sul-SP, Guarulhos –SP, Bairro de Heliópolis e , agora Freguesia do Ó em São Paulo –SP. Com a vivência da mediação entre as partes envolvidas, acompanhada por profissionais habilitados, o conflito já vem sendo enfrentado e resolvido. Como disse anteriormente, já se comprovou o encerramento de processo e retirada da queixa na Delegacia, devidamente acatado pelo Poder Judiciário. No Brasil, há várias experiências exitosas no Sistema de Justiça com a introdução da Justiça Restaurativa, com jovens e adultos em práticas de atos inflacionais. O Brasil vem sendo fortalecido com as iniciativas em vários municípios, quando aplica as práticas conhecidas no Canadá, Índia, Nova Zelândia, Estados Unidos, Inglaterra e em países da America Latina.
Reportagem : Vítor Eugênio.






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