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Sábado
dia 15 de março de 2014 aconteceu na Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida em
Ilicínea o curso de capacitação sobre Mediação
de Conflitos e Rede Social ministrado pelo filósofo Vicente Alves . No
final do evento Vicente propôs a criação do Conselho de Cultura da Paz a ser
discutido na reunião de abril. Membros
de várias entidades de Ilicínea se dispuseram a fazer parte do Conselho de Paz.
Já confirmaram : Rosely Rocha (Conselho Tutelar), Clauderson (Loja Maçônica),
Eduardo (1ª Igreja Batista), Jaqueline Resende (Escola Maria Nicésia), Silvia
Costa (Rotary Club ), Silvânia ( Assistência Social), Vítor Eugênio (Agência
Congonhas de Notícias) Bereneci Vilela (professora). Adriana Faria (EENSA) e
Tenente Edvaldo Silva (Policia Militar) . Abaixo segue uma entrevista esclarecedora sobre o tema com
Vicente Alves e o que se pretende desenvolver em Ilicínea.
1
–Onde mora , graduação, nome
completo, estado civil, naturalidade?
Sou Vicente de Paula Alves, natural de
Ilicínea – MG, casado e pai de quatro filhos. Atualmente moro em São Paulo, em
Itaquera. Nesta região, tenho não somente vivenciado os conflitos gerados pela
construção do estádio do Corinthians, como também aprendido o evidente
sentimento de impotência dos moradores despejados de suas casas, para que se
realizem as obras projetadas para a Copa de 2014. Graduei-me em Filosofia pela
PUCCAMP/FAI, com pós-graduações nas seguintes áreas: Adolescente em Conflito
com a Lei, pela UNIBAN-SP; Mediação de Conflitos e Práticas Restaurativas, pela
Escola Superior do Ministério Público em São Paulo, Designer Instrucional em
Educação à Distância na Universidade Federal de Itajubá-UNIFEI_MG.
2 –
O que levou você a se interessar por esta questão social e como é o trabalho
deste tema em São Paulo?
Tenho realizado diversas atividades em
pastorais sociais, nas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica em
cidades como Campinas e São Paulo. Na Prefeitura de São Paulo, assessorei o
Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e os Conselhos Tutelares. No
Serviço SOS Criança, como diretor do Centro de Atendimento, adotei como método
de trabalho as medidas protetivas. Além disso, exerci a docência na Rede
Estadual em Diadema-SP. Hoje, concursado , como Supervisor no Estado e
Coordenador de Posto de Liberdade Assistida em Mogí das Cruzes-SP, desempenhei
ações mediadoras direcionadas a adolescentes judicialmente inseridos em medidas
socioeducativas de meio aberto. Na instituição onde trabalho, auxilio nas ações
de formação continuada de servidores, inclusive discutindo Cultura de Paz e
enfrentamento da violência. Como especialista em mediação de conflitos, atendi,
no Ministério Público de Santana, pessoas encaminhadas por Promotor, antes que
suas ações fossem ajuizadas. Ali,
acompanhei casos de Boletins de Ocorrência de menor gravidade. As pessoas em
litígio participavam de seis sessões de atendimento em média, nas quais se
aplicavam técnicas específicas de mediação. Observei, nesta atividade, que ,
com freqüência, elas adotavam uma
postura menos hostil quando à forma de se posicionarem em relação ao litígio, e
chegavam, inclusive, em alguns casos, a retirar as queixas da Delegacia, por
optarem por uma solução consensual e pacífica. Percebi, dessa forma, como é
importante o papel do mediador nessa s questões, nas quais as pessoas são
geralmente refratárias ao diálogo e visam ao ressarcimento financeiro por dano
causado por outra pessoa. O papel do
mediador é essencial na busca de formas pacíficas de resolução de conflitos.
Agregando minha experiência em mediação de
conflitos às atividades da pastoral e à participação na rede social, passei a integrar
a equipe de mediadores da Escola Restaurativa, que atua em 04 escolas dos
bairros da Freguesia do Ó/Brasilândia , em São Paulo-Sp, em parceria com a
Secretaria Municipal de Educação. Inserida no ambiente escolar, nossa equipe
tem como objetivo a realização de intervenções mediadoras na solução de
problemas educacionais geralmente
complexos, decorrentes das relações interpessoais e de práticas pedagógicas
estabelecidas. As ações de gestores,
funcionários, professores e alunos e pais, no contexto escolar, podem gerar um ambiente desfavorável às
potencialidades da escola no que diz respeito à sua função essencial de
preparar seus alunos para atuarem socialmente como cidadãos plenos. Claramente,
a produtividade mediadora da parceria entre a equipe da Escola Restaurativa e
as escolas resultam em algumas mudanças significativas. Percebe-se o resgate
da autoestima e positividade dos
professores, gestores e servidores, ao se tratar do enfrentamento de demandas
complexas, às vezes, geradas internamente ou trazidas da comunidade pelas
crianças e adolescentes para o ambiente escolar.
3 – Para Ilicínea qual a proposta neste
campo?
Mesmo não residindo atualmente em
Ilicínea, jamais deixei de participar direta ou indiretamente, em pequenas
inserções na cidade, ora em programas de rádio, ora no acompanhamento pastoral,
ainda com Monsenhor Francisco, de discussões ou movimentos sociais voltados
para o bem comum de minha cidade. Desejoso de apoiar ações que conduzem a comunidade para o fortalecimento das relações
interpessoais e da cidadania participei ativamente da proposta de discussões da
Secretaria de Serviço Social há cinco anos.
A convite da Sra. Adriana Faria, gestora
da Escola Estadual , estabeleceu-se uma parceria como o que ocorreu em São
Paulo, no sentido de apoiar e auxiliar os servidores da educação estadual na
organização de suas práticas educativas com os alunos e a rede social.
Objetivamente, pretendo desenvolver estratégias para a solução de conflitos , por meio do
gerenciamento da expressão de emoções e
da promoção de um ambiente desprovido de agressões gratuitas e de surgimento de
novos conflitos. As soluções, portanto, são consensuais, criativas ,
cooperativas e empáticas.
Embora a experiência adquirida com o
membro da Escola Restaurativa tenha me levado a conhecer um pouco do universo
escolar, é importante esclarecer que a identidade, ou melhor, a cultura da
Escola Estadual de Ilicínea não é a mesma das escolas de São Paulo. Cada escola
é constituída diferentemente: gestores, funcionários, professores, alunos,
pais, comunidade, espaço físico, recursos, as práticas pedagógicas, sua forma
de organização , seus problemas cotidianos, as maneiras como a comunidade
interage com a escola, os problemas da comunidade que também refletem no espaço
escolar, a dinâmica das ações voltadas
para a solução desses problemas etc. compõem, em interação , a cultura escolar.
Por esse prisma , o convite da gestora
Adriana é desafiador, no sentido de que todas as ações desenvolvidas
poderão permitir a criação de um ambiente de reflexão e critica sobre as
práticas que se dão na escola, e como elas vão refletir na formação das
crianças e jovens de Ilicínea . Dessa forma , almeja-se qualificar ainda mais
as relações interpessoais e propiciar mecanismos de empoderamento da comunidade
escolar no enfretamento de questões referentes aos conflitos vividos por
professores, alunos, (sejam da área rural ou urbana) e pais da Escola Estadual
de Ilicínea.
Penso,
com isso, que a reflexão sobre as práticas educativas que possibilitem a mudança do ambiente
educacional de qualquer escola é um avanço significativo na
reconstrução das práticas sociais de uma comunidade. Com Ilicínea, acredito não
ser diferente. As ações propostas pelas diretrizes da Comunicação Não violenta
fortalecem as atuações da ¨rede social¨ no ambiente escolar. Além de uma gestão
democrática e da adesão efetiva de seus profissionais às diretrizes da Cultura
da Paz, a participação efetiva de organizações públicas e privadas, do Poder
Público e da sociedade civil organizada contribui para o fortalecimento da rede
social , na resolutividade dos problemas escolares, com seu ¨olhar de fora¨ e
seus recursos e serviços de apoio. Por isso, também são atores importantes, nas
nossa ações, as Entidades Sociais , Associações, Sindicatos, Igrejas, Rotary
Clube, Loja Maçônica, Clubes Esportivos e Empresas, órgãos do Setor Público
Estadual e Municipal, Segurança Pública
(Polícia Militar) , Câmara de Vereadores, todos os serviços públicos ofertados
pela Prefeitura Municipal nas Secretarias da Educação, Assistência Social,
Saúde, Meio Ambiente e órgãos de defesa da criança e do adolescente (Conselho
Tutelar). Esses segmentos sociais ajudam a promover a reconstrução de valores,
normas e regras, de metas escolares, de atividades desenvolvidas com os alunos,
de projetos, de temas que norteiam as discussões interdisciplinares, como
cidadania, valores, preconceito, direitos e deveres dos cidadãos, saúde,
educação entre outros, do esforço coletivo em solucionar positivamente
problemas, num ambiente solidário e voltado para a eficácia do processo de
ensino-aprendizagem das crianças e jovens de Ilicínea. A constituição de uma rede social atuante
ultrapassa os muros da escola quando chama à ação comunicativa representantes
de empresas públicas e privadas que interagem com crianças, jovens e
profissionais da educação para
desenvolverem ações que conduzam à pacificação na escola. Estando mensalmente na cidade para formação,
inicialmente, dos professores e demais servidores da educação estadual,
coloco-me à disposição para estimular espaços de fortalecimento de cidadania,
agora com a criação do Conselho de Cultura da Paz, que nasceu alicerçado pelas
entidades sócias e públicas presentes dia 15-04-2014, bem como daquelas instâncias,
inclusive o Sistema de Justiça e outras que compuserem as discussões para ações
conjuntas e integradas, visando à pacificação social e o empoderamento das
pessoas.
4 – O curso de capacitação em Ilicínea
aconteceu em três vertentes. Como foram divididos os grupos de trabalhos?
Vivenciando o diálogo e articulação com a
Gestora da Escola Estadual, foi pactuada a capacitação dos servidores,
utilizando-se ferramentas, técnicas, tecnologias e oficinas específicas da Mediação de conflitos, Práticas
Restaurativas, Comunicação Não Violenta e Cultura da Paz. Para isso,
trabalhamos nos períodos da manhã e tarde com dois grupos de professores,
gestores e demais servidores daquela
instituição, valendo-se de vivências de círculos de paz e restaurativos. Desenvolveram-se
atividades grupais e levantamentos de diagnósticos das questões pontuadas no
dia que serão trabalhadas em seis encontros neste ano de 2014, visando ao
fortalecimento dos educadores, na relação com os alunos, seus familiares e rede
social local.
No terceiro momento, aberto à comunidade,
previamente convidada pela Escola, desenvolveu-se uma discussão sobre Rede
Social, enfatizando-se um pouco as reflexões que a Cultura da Paz pode promover
na resolução de conflitos nas relações humanas, mesmo as mais complexas.
5 –
Como foi a experiência de ministrar este curso em Ilicínea e quando acontece a
próxima reunião?
Como vivenciei ações em realidades mais
complexas de conflitos em São Paulo-SP, junto a outros mediadores, com as
demandas apontadas pela Gestão da escola
estadual daqui, organizei os instrumentais para levantamento de
diagnóstico das questões que viessem a surgir. Organizei, também, técnicas,
tecnologias, oficinas, ferramentas, e apresentei sugestões de livros e leituras
que ajudarão na ação na escola e rede
social. Trouxe livros de autores brasileiros e internacionais que trabalha a
Cultura da Paz e Mediação de Conflitos e que foram conhecidos pelos educadores
e pelos participantes do encontro com a rede social. Na ocasião, criou-se o
Conselho de Cultura da Paz, que visa agregar todos os segmentos sociais e
pessoas que almejam buscar respostas objetivas e possíveis de concretização no
enfrentamento de violências e conflitos de convivência no ambiente escolar e
sociocomunitário da cidade. Por ser um movimento social, de iniciativa popular,
o mesmo é democrático, colaborativo, cooperativo, participativo, com dimensão
pedagógica e dialógica, portanto, apartidário, e não pode ser compreendido de
outra forma.
Os conflitos, sejam quais forem, para serem
solucionados, precisam ser estudados, compreendidos, debatidos, e criadas
respostas simples e possíveis de aplicação. Até mesmo na formatação do
Conselho, as pessoas e instituições que buscarem a melhor organização deverão
despir-se de preconceitos e interesses e exercitar a compaixão, a
solidariedade, o respeito e a cidadania plena, a todo instante. Pode-se dizer,
com se dá com um código de ética, que se busca orientar as ações para a
promoção do combate à discriminação, ao preconceito e à desigualdade, garantido
a equidade no atendimento dos serviços à criança, ao adolescente, aos adultos e
aos idosos. Para tanto, faz-se necessário compreender o contexto local e cultural, as questões de gênero
e de etnia para a melhor atenção às crianças e adolescentes.
Antes de tudo, é oportuno que o jovem seja
visto como um ser em desenvolvimento em busca de sua identidade. Essa questão
pode surgir no cotidiano das relações interpessoais, na educação formal e nas oportunidades que a cidade
propicia aos seu munícipes. Isto é uma demanda
que, no momento, exige discussão ou vem junto a outras
necessidades. Então , o caminho se faz
caminhando , com muita cautela, respeito às diferenças de opiniões,
configurações políticas, credos, gêneros e classe social.
Há a necessidade de empenho permanente para
a eliminação de todas das formas de preconceito. Incentiva-se com isso, o
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à
discussão das diferenças, bem como o respeito aos profissionais, para que não
sejam pessoas discriminadas; nem discriminar, por questões de inserção de
classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e
condição física.
A experiência de atuar na primeira ação em
Ilicínea foi bastante significativa e proveitosa, uma vez que o primeiro
princípio é o do respeito ao espaço sagrado dos profissionais, a escola. Ali,
os educadores e servidores da Escola Estadual de Ilicína-MG, na formação,
expressaram que atuam com dedicação, profissionalismo e respeito, balizando a
atuação no diálogo, na garantia aos princípios dos direitos humanos e
normativas do Brasil, desde a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, O Estatuto da Criança e do Adolescente e normativas que
permeiam a educação para a juventude. Como estamos no levantamento de questões,
nos próximos encontros, vamos desenvolver oficinas, técnicas e recursos
pedagógicos para dialogar, debater e elaborar respostas coerentes com a
realidade escolar, bem como ampliar de forma significativa as relações naquele
ambiente socioeducativo. Mais à frente, queremos diagnosticar com os alunos e
grupo familiar as questões que almejam discutir com a educação formal naquela
escola, estimulando-os a apontar em que podem ajudar na solução das questões
enfatizadas. Das discussões já levantadas, serão propostos cursos de
capacitação em mediação de conflitos para profissionais, voluntários e, também, jovens para que sejam mediadores
sociais em escolas e comunidades. Espera-se o estabelecimento de parcerias com
organismos públicos e particulares, de forma a custear recursos financeiros nas
capacitações. Propõem-se, também, as articulações de saberes e serviços de
organismos que implantaram em municípios as práticas restaurativas, valendo-se
das práticas vivenciadas de mediações de conflitos e das respostas criadas nas
relações sociais e educacionais.
6-
Qual a importância deste trabalho nos dias atuais?
Em conformidade com os princípios da
Comunicação Não Violenta, Cultura da Paz e Mediação de Conflitos em
comunidades, o trabalho proposto quer contribuir de forma significativa e
qualificada para o gerenciamento e a expressão de emoções e posicionamentos
pessoais. Promove, sem agressões ou criação de conflitos, soluções de consenso
criativas, cooperativas e de empatia entre as pessoas, considerando-se a
realidade de cada pessoa e sua realidade sociocomunitária.
7 –
Este é um trabalho de inclusão e cidadania. Há muitos profissionais atuando na
área, ou na maioria, são voluntários?
O trabalho tem caráter pedagógico e de
cidadania, com participação contínua das pessoas nos organismos e
instituições públicas e privadas, as se
dar voz às crianças, jovens, adultos e idosos. O protagonismo de ações conduz a
uma sociedade mais pacificada, com respeito e compaixão pelo outro, em todas as
condições que a vida oferece em qualquer comunidade social.
Atualmente, existem organismos e
instituições públicas e privadas envolvidos na criação de cursos de
capacitação, monitoramento e avaliação de práticas de mediação de conflitos e
estabelecimento de Cultura de Paz. Caminha-se no sentido de formalizar a
profissão de mediadores de conflitos, também havendo mediadores que atuam em
defesa de interesse de empresas, bem como outros a serviço do Sistema de
Justiça, estes últimos visando acelerar os processos judiciais, principalmente
aqueles em que não há como aplicação alguma penalidade.
O resultado tem sido satisfatório com
escolas em algumas cidades, com Porto Alegre-RS, Brasília-DF, São Caetano do
Sul-SP, Guarulhos –SP, Bairro de Heliópolis e , agora Freguesia do Ó em São
Paulo –SP. Com a vivência da mediação entre as partes envolvidas, acompanhada
por profissionais habilitados, o conflito já vem sendo enfrentado e resolvido.
Como disse anteriormente, já se comprovou o encerramento de processo e retirada
da queixa na Delegacia, devidamente acatado pelo Poder Judiciário. No Brasil,
há várias experiências exitosas no Sistema de Justiça com a introdução da
Justiça Restaurativa, com jovens e adultos em práticas de atos inflacionais. O
Brasil vem sendo fortalecido com as iniciativas em vários municípios, quando
aplica as práticas conhecidas no Canadá, Índia, Nova Zelândia, Estados Unidos,
Inglaterra e em países da America Latina.
Reportagem : Vítor Eugênio.
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