sexta-feira, 19 de março de 2010

A tradição de cantar a reza para as almas em Ilicínea

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     Durante a Quaresma, de quarta-feira de cinzas até quinta-feira Santa, os católicos realizam a preparação para a Páscoa. Período reservado para reflexão e conversão espiritual, onde simbolicamente o cristão está renascendo para Cristo.O percurso da Quaresma é acompanhado pela realização da Campanha da Fraternidade – a maior campanha da solidariedade do mundo cristão. A Cada ano é contemplado um tema urgente e necessário.
     Em Ilicínea também desperta atenção o canto da reza para as almas, uma tradição antiga, que estará próxima do fim, se nós não buscarmos um meio para valorizá-la. A reza para as almas em nossa cidade tem com grande líder José Augusto Parreira, conhecido por José da Maria Augusta.Rezar para Almas é um desafio que poucos conseguem, pois o grupo deverá ter pelo menos sete pessoas, já que são sete vozes diferentes.Como funciona hoje em Ilicínea na prática: José Augusto Parreira é o alertador (primeira voz), a esposa dele dona Marieta é ajudante do alertador (segunda voz), Pedro do João Pedro o contrato (terceira voz), João da Emilia a primeira tala (quarta voz), Jose Baia a segunda tala (quinta voz), Eurides Dias a terceira tala (sexta voz), Osvaldo Fidelis a quarta tala (sétima voz), e mais dois auxiliares Joaquim Pereira e José Silvestre (Zé da Cerca).Outro que acompanhou o grupo vários anos foi o Pedrinho Peão, este ano impossibilitado não pôde acompanhar os mesmos. Um detalhe interessante, as vezes bons cantores não conseguem acompanhá-los.O canto da Reza para as Almas é puxado pelo alertador e na seqüência uma escala de vozes.Cada membro deverá pegar a seqüência o que poucos conseguem.
     O único instrumento que utilizam é a matraca.O canto da Reza para Almas tem três etapas. A primeira etapa, o alertador bate a matraca três vezes e dá o alerta, aguarda um pouco para que o dono da casa reze o Pai Nosso em intenção dos familiares falecidos. A segunda etapa invoca o cântico do Pai Nosso e Ave Maria três vezes cantados que oferecem para as almas, parando a cada invocação para que o morador reze no intervalo.A cada parada bate a matraca três vezes.A terceira e última etapa é o oferecimento, que quer dizer a despedida.Durante o momento da Reza para as Almas o morador não pode abrir a porta e nem a janela, e segundo a crença os cantadores não podem olhar para traz para não ver as Almas que estão sempre acompanhando o grupo. Outro mito somente canta em quantidade de casas impares.O Canto da Reza para as Almas é muito bonito, emocionante, triste e amedronta muitas pessoas.
     Jose da Maria Augusta, reza para as almas há trinta anos em Ilicínea, tradição que herdou dos avós, mas desde os 15 anos ele acompanhava o pai Joaquim Alves Parreira no São José da Boa Vista.A reza para as almas também é admirada por alguns padres. Seu Zé conta que Monsenhor Francisco certa vez disse a ele que se rezasse para as almas na casa dele, chamaria a polícia.Um dia da semana Santa foram até a casa do Monsenhor, esperando a reação dele. No outro dia foi chamado a Casa Paroquial e ficou assustado, mas se surpreendeu por que um padre da Aparecida do Norte os convidou para cantar novamente e gravou a reza. Também eles já rezaram na Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida a pedido do Padre Claret.
     O ponto de partida do grupo é na esquina da rua Boa Esperança com a Tiradentes justamente ali no Zé Lau.Seu Zé me contou uma história que uma noite uma mulher de São Paulo que não conhecia a tradição, também chamou a policia para eles.Comigo aconteceu diferente, todos os anos eles rezam em minha casa, mas em 2004 época em que alguns presidiários de Boa Esperança fugiram da cadeia, os cantadores das Almas combinaram de rezar em minha casa, e me esqueci. Quando deram o alerta, sai lá fora assustado pensando no pior e fiquei muito sem graça. Sempre que encontro com o Pedrinho Peão ele me lembra do fato que marcou muito para mim.
Matéria de Vítor Eugênio.


3 comentários:

  1. parabéns pela excelente materia, ilicinea ainda tem filhos que resgatam sua cultura, seja ativa ou passivamente.

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  2. Outro detalhe interessante: Durante a reza para as almas o dono da casa não pode sair do lado de fora, e os rezadores não pode olhar para trás, dizem a tradiçaõ que as almas acompanham o grupo.

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  3. Taí uma tradição que eu não conheçia(sai de Ilicínea há mais de 40 anos!!!).Só me lembro de matraca aqui em São Paulo,mas era de um senhor que vendia um doce chamado "quebra queixo".Acho que esse doce ainda existe,mas com outro nome e sem matraca.A reza para as almas talvez continue se essas pessoas conseguirem passar ao menos para os parentes mais próximos ou insistirem com as gerações mais novas...mas acho difícil porque envolve uma devoção,canto,enfim,tomara que eu esteja errada.E que piada boa essa da sua confusão,hein?

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